terça-feira, 4 de maio de 2021

Covid-19

 São muitos. Até já fazendo aniversário de morte. 

São distantes, próximos, famosos, desconhecidos, crianças, adultos, idosos. 

São muitos. Muitas.

Vítimas.

Pessoas deixando suas famílias tão cedo. E, algumas vezes, com uma dívida hospitalar impagável, embora sabemos que o hospital vai cobrar mesmo assim.

Vítimas de quem? 

Do vírus também, mas principalmente da sociedade em que vivemos. Dos governantes que colocamos no poder. Do negacionismo. Das fake news. Do individualismo. Do capitalismo. 

Estamos cansados, fragilizados, separados. Anestesiados, parece. 

Não há horizonte de fim, embora a chegada da vacina tenha trazido alguma esperança. 

É urgente aprender a lição. É urgente entender que estamos todos conectados e, enquanto todos não tiverem uma vida digna, ninguém terá. 

Precisamos cuidar uns dos outros e todos da natureza, que se comprova soberana. 

É hora de enxergar todos os condicionamentos a que fomos submetidos para acreditar que só existe uma forma de existir, que, claramente, está dando muito errado.  

É hora de nos libertarmos para tentar salvar o que ainda nos resta. 

É hora de conceber e buscar uma existência mais digna, que valoriza o coletivo e a diversidade. A natureza é assim e nós, querendo padronizar os seres humanos, estamos acabando com tudo. 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Saúde na Pandemia

 Está mais difícil, parece. Claro. É natural. Apesar das pessoas que estão conseguindo implementar bons hábitos na pandemia, é mais comum e esperado que os velhos hábitos destruidores, que nos trazem algum alívio momentâneo, mas que a longo prazo nos deixam piores, estejam mais e mais tentadores.

A realidade que o COVID escancarou, da desigualdade social, é muito cruel. Não igualmente para todos, óbvio. Embora quanto mais perto da pobreza, mais triste a realidade seja, é triste para todo mundo. Fato. E se você, como eu, se reconhece no outro, na lucidez, a dor é constante.

E tem também o machismo estrutural que nos faz acreditar que nosso valor, como mulher, está na nossa aparência. No nosso peso. Tem que ser magra para ser bonita. E tem que ser bonita para existir. 

E vem as informações contraditórias difundidas no mundo da nutrição: nao coma ovo; coma ovo. Óleos vegetais, açucar, gluten, laticíneos: vilões. Carnes e gorduras: moralmente condenados. Coma de três em três horas. Faça jejum. Jejum intermitente. Conte calorias. Acompanhe os Macros. Comida colorida. Déficit calórico. Faça HIIT. Musculação. Cardio. No mínimo, uma caminhada, vai. 

Mas fique em casa. Não saia a não ser que seja para coisas essenciais. Não encontre com amigos. Não fique perto de pessoas. Use máscara. Não a de pano, a profissional. 

Vem, vacina! Ah! Mas foi muito rápido, não confio. E os vídeos das pessoas que fingem aplicar a vacina, que horror?! A pessoa sai feliz achando que está protegida, e, assim, é mais uma que vai ajudar a eliminar o vírus, mas não. Não está e, sem saber, contribuirá da mesma forma que os anti-vacinas para um cenário catastrófico em que o vírus não apenas não morrerá, como poderá se fortalecer.

E tem a saudade dos abraços. Da família. Das festas. De viajar, para quem tinha esse privilégio já antes.

Os dias são longos, mas o ano é curto. Já é 2021, já vou fazer 40, mas continuo muitas vezes presa na mente estreita e infantil: nunca vai passar, sempre será assim, é mais forte que eu, você merece esse brigadeiro, enxaqueca, cansaço, preguiça ou depressão?

Esse não é um texto animado e com alguma resposta, mas cumpre seu papel de desabafo. De tirar de dentro de mim essa confusão, enquanto espero a impermanência trazer tempos melhores.

Só por hoje.


Inteligência emocional

Eu até hoje peço coisas para São Longuim (e pago minha promessa, quando encontro o que procuro). Meus filhos aprenderam. Esta semana, Davi perdeu uma roda de caminhão e pediu:

- São Longuim, São Longuim, se eu achar a roda do meu caminhão eu dou três pulim e três gritim. 

Feito. Achou - 3 dias depois, mas achou - e pagou a promessa.

Dias depois, Bento perdeu um bichinho de pelúcia (Booboo) e foi fazer o seu pedido:

- São Longuim, eu te amo muito, você é muito fofinho e lindinho. Se eu achar o Booboo eu dou três pulim e três gritim.


quarta-feira, 17 de junho de 2020

Braquitude tóxica

Faz umas duas semanas que estou submersa nas pautas do movimento negro. Sempre soube que o Brasil (e o mundo) é racista, mas isso nunca doeu tanto em mim. Era mais uma constatação da nossa realidade do que me sentir parte ativa dela. Era uma tristeza acompanhada de um alívio por não ser negra, confesso. Tristeza por um outro distante. Tristeza sem identificação real nem com oprimido e muito menos com o opressor. Tristeza que dá um apertinho no coração, mas passa rápido quando volto para os meus afazeres, era como quem assiste um filme triste, distante. Era assim. 

Desde que comecei a acompanhar diariamente o mundo sob a perspectiva do negro - o que aconteceu pra mim somente após as mortes do George Floyd e, mais intensamente, do Miguel - essa tristeza mudou de forma e intensidade. Esse aperto no peito ficou mais intenso e permanente, me reconheci como parte do problema e isso me causou um desconforto enorme, um senso de urgência em mudar agora toda essa estrutura que não reconhece o negro como igual. Como sou parte do problema,  a sensação de distância e impotência que sentia antes caiu por terra. Chega! Precisamos parar tudo, reescrever nossa história e mudar já nosso presente e futuro. Conhecer e contar a verdade, sob todas as perspectivas. 

Não adianta esperar o governo fazer alguma política de inclusão, temos que fazer nosso trabalho de formiguinha e, juntos, pressionar para que mudanças estruturais efetivas ocorram. Me entristeceu notar que os posts em que divulguei perfis de pessoas com quem podemos aprender tiveram pouquissimos likes ou visualizações. Me entristece ver que a mobilização que parecia ser geral semana passada está se dissipando, perdendo força. Artistas brancos com milhões de seguidores cederam seus perfis a pessoas importantes do movimento negro, mas o público simplesmente não assiste, não lê, não se interessa. 

Eu entendo essa tendência de ficar no nosso lugar de conforto, de ignorância, de não-identificação com a causa, de evitar esse sofrimento, mas, gente, seguinte: esse lugar nos coloca do lado dos assassinos, não há meio termo: se não estamos lutando ao lado do povo negro, olhando o mundo sob sua perspectiva, aprendendo com eles, estamos, inevitavelmente, matando os negros, corroborando com a visão de que a vida negra não tem o mesmo valor. 

Eu não sei o que fazer com essa urgência que sinto em meu peito e esse texto é mais um desabafo, uma tentativa de tirar de mim. Essa pauta tem que ser nossa prioridade. Se pensarmos bem, todas as outras estão, de alguma forma, relacionadas a ela. Enquanto houver injustiça, não haverá paz pra ninguém. Somos intimamente conectados, o sofrimento do povo negro é todo nosso e de nossa responsabilidade. 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Loiro

Bento me pergunta com carinha triste:

- Mamãe, nós é loiro?

- Sim, vocês são loiros.

- Mas eu não quero.

- Por que? Você sabe o que é loiro?

- Não.

- É quem tem cabelo claro. E vc tem. Só isso.

- Mas eu não gosto dessa faladora. (palavra)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Bento, 4 anos

Bento, andando atrás de mim, não para de me encarar, sorrindo. 
- O que foi, filho? Meu cabelo tá bagunçado?
- Não. - continua me encarando com o mesmo sorriso.
- Por que vc está me olhando desse jeito?
- Porque eu to gostando de você. 

Bento, 4 anos hoje. Que felicidade conviver com essa alminha iluminada! Vida longa e saudável, meu filho!


sexta-feira, 15 de novembro de 2019

To bonita?!

Carlos chegando de uma viagem longa, me arrumei um pouco mais e, insegura, perguntei pro Davi:

- Estou bonita, filho?

Olhou bem e disse:

- Ta engraçada.

- Engraçada?! Não quero estar engraçada, filho, quero estar bonita. Estou bonita?

- Mãe, engraçada é bom. Ta engraçada. Só engraçada.