sexta-feira, 29 de março de 2019

O perrengue é real

Há dois meses, iniciei oficialmente um tratamento contra meu vício em comida, Bright Line Eating, da Susan Peirce Thompson. Basicamente, existem 4 linhas bem definidas que não posso cruzar por razão alguma:

- Zero açucar. (ou álcool)
- Zero farinha.
- Três, e somente três, refeições por dia. Zero lanchinhos ou beliscar comidas fora da refeição.
- Quantidades limitadas por refeição, baseada num plano alimentar definido.

Similar ao tratamento de outros vícios, não existe consumir o vício com moderação. O viciado não conhece moderação, ele vai com tudo e não consegue parar, por mais que deseje. Eu me identifico com esse comportamento compulsivo em relação à comida. Eu não paro de comer quando estou satisfeita, eu só paro de comer quando a comida acaba ou quando estou fisicamente passando mal ou triste. Não é uma relação saudável, não é uma escolha consciente. Sinto-me sem forças diante de alguns tipos de comida - basicamente com açucar e farinha. Sinto-me refém.

A simples ideia de cortar essas coisas da minha vida é assustadora. Como assim, viver sem açucar e farinha?! Há vida/felicidade sem açucar e farinha? Duvido. Irreal. Esse foi - e ainda é, confesso - a minha reação diante desse programa. Certa de que não era pra mim, decidi fazer o desafio dos 14 dias  do programa para poder falar com conhecimento de causa. 

Bem, nesses 14 dias em que fiquei sem açucar e sem farinha, pude experimentar um gostinho de não mais ser vítima da comida. Eu sabia que não iria comer e pronto, só por aqueles 14 dias: "só por hoje". Comecei a acordar disposta antes do alarme, perdi peso e estava me sentindo bem. 

No último dia do desafio, fui a uma festinha de aniversário de criança. Passei a tarde inteira na saladinha, contente. Na hora do parabéns, depois de negar um pedaço de bolo 3 vezes, coloquei na minha cabeça que se me oferecessem mais uma vez, aceitaria. Só um pequeno não faria mal. 

Ofereceram. Comi o pedaço de bolo. Repeti. Voltei à mesa e comi tudo que estava lá desde o começo da festa e que não tinha comido. E ainda fui embora pensando fixamente nas coisas que comeria assim que chegasse em casa. Terrível! A fera estava solta e totalmente no controle dos meus atos. Fiquei mal, passei mal. 

Depois de umas férias sem censura alimentar alguma em que ganhei 7 quilos em 5 semanas, resolvi entrar no Boot Camp (BC) desse programa: 8 semanas de Bright Line Eating, que terminaram agora. Não mantive todas as linhas intactas nesse período, mas cortei açucar e farinha da minha dieta (exceto alguns poucos dias de recaídas). Não segui o programa à risca, mas fiz significativas alterações na minha forma de comer e, porque não?!, viver.

Termino esse BC 6 kg mais leve e com a esperança de que algum dia próximo conseguirei curar minha mente e me sentirei livre dessa obsessão por comida. Quero experimentar essa liberdade e, é claro, viver num corpo que me agrada mais.

Não é - e não tem sido - fácil. Meu obsessor interno vive me atormentando, dando inúmeras razões pra eu me permitir ter um dia "normal", como todo mundo (mesmo eu sabendo que nunca comi como todo mundo, que meu normal não é saudável). Ele me mostra a cena de eu cedendo aos meus desejos e me diz como seria maravilhoso comer aquele pacote de NMF (not my food), como estou perdendo e o tanto que eu mereço esse momento. É terrível! Tenho mandado ele se calar e sigo resistindo, mas PUTA QUE PARIU, até quando?!

Eventualmente ele se cala e eu me sinto em paz. Toda manhã quando me olho no espelho fico mais feliz com a forma que meu corpo está ganhando, me reconheço mais nele e me sinto bem. E sigo assim, nessa dança do "não vou aguentar mais" e do "tá fácil, vale muito a pena".

sábado, 23 de março de 2019

E a gente é só passageiro prestes a partir


A nossa vida muda irreversivelmente a cada instante, por mais que quase sempre pareça que tudo está e continuará sempre igual. A verdade é que, sem percebermos, pessoas vão e vem o tempo todo. Cada vez que alguém deixa de fazer parte do meu dia a dia, eu sinto uma dor no peito proporcional à alegria que aquela pessoa, mesmo inconsciente disso, me trazia.

Ultimamente, tenho sentido mais e mais essa dor. E não acho que é porque muitas pessoas estão deixando de fazer parte da minha vida. Acho, sim, que é porque nos últimos anos me abri para realmente apreciar cada um que cruza meu caminho. Mesmo sem que essas pessoas saibam, mesmo sem que seja recíproco. 

Quando meu primeiro namorado terminou nosso namoro e fiquei arrasada, meu pai me disse uma coisa que nunca esqueci - e que repeti incontáveis vezes para muita gente e para mim mesma. Não lembro exatamente como ele disse, mas a mensagem era essa:

- Está sofrendo com o fim desse relacionamento? Que bom. Sinal de que você se envolveu como tinha que ser. 

Tenho notado que nos grupos de que faço parte, normalmente sou a mais animada - quando não a única animada. É obvio que é muito mais legal quando a empolgação é compartilhada, mas eu prefiro ser a única empolgada do que estar num lugar sem me empolgar com aquilo. 

Sinto meu coração partido a cada partida/mudança, mas penso que é melhor assim. Na verdade, só assim. 

E que o novo sempre me encontre aberta e animada.

sábado, 16 de março de 2019

"Não me deixa bravo."

Autorresponsabilidade foi um aprendizado que mudou minha vida. Ninguém é responsável por como me sinto. Eu sou a única pessoa capaz de me fazer sentir qualquer coisa. Aprender isso foi libertador e passei a me sentir muito melhor, pois comecei a escolher como me sentir em relação a tudo que acontece ao meu redor. Esse aprendizado foi uma virada de chave na minha vida, eu achava.

Davi brincando, Bento chegou perto e tocou os brinquedos do Davi. Davi calmamente demandou:

- Bento, não me deixa bravo.

"Não me deixa bravo." - A frase ainda ecoava na minha cabeca, quando Bento veio em minha direção confirmar o que eu suspeitava:

- Mamãe, Davi está me deixando bravo.

É, autorresponsabilidade é tudo, mas se meus dois filhos se expressam dessa forma é sinal de que não ando praticando muito bem, não. Essa frase certamente veio de mim e eles acreditam, portanto, que se eu fico brava a culpa é deles e não minha. Não é. Eu sei racionalmente, mas não falo com eles como se soubesse.