terça-feira, 24 de setembro de 2019

Amor de irmão

Hoje o Bento me deu uma canseira! Fiz comida o suficiente para almoço e jantar do dia. Davi amou, Bento quase nem provou, disse que não gostava e não quis comer. A regra aqui é: não quer comer o que está servido, fica sem comer. (escrevendo pareceu-me duro demais, mas sempre funcionou bem. A criança acaba comendo quando está com fome)

Hora do jantar, sirvo a mesma refeição e Bento, de novo, se recusa a comer. Aviso que é o que temos hoje e, se não quiser, vai dormir com fome. Ele fica o jantar inteiro à mesa reclamando e não toca na comida. Resolvo dar na boca, coisa que não preciso fazer desde que ele era bebê, quase - desde cedo come bem sozinho. Ele abre a boca, faz cara feia e joga a comida pra fora. Penso: comida saudável, fresca, delícia. Fdp! Se não quiser, vai dormir com fome.

Davi e eu terminamos o jantar e sirvo a sobremesa que é um sucesso aqui em casa: banana com canela e queijo quente no microondas. Davi se delicia e Bento implora:

- Quero bananinha!

- Come a comida e dou a bananinha. Não quero que mate a fome no doce.

Ele insiste e esse diálogo se repete muitas vezes. Termino o meu jantar cansada e com pouca paciência:

- Seguinte: Vou tirar a mesa e organizar a cozinha e esse é o tempo que você tem para terminar o jantar. Se não comer, vamos pro banho e cama. Vc vai dormir com fome. Nada de bananinha pra vc.

Davi, preocupado com o irmão, incentiva:

- Vai, Bento, ta uma delícia! Come! Mamãe, dá na boca dele.

- Eu não! Eu até ia dar, mas ele não se comportou, perdeu a chance. 

Davi termina sua bananinha e começa a dar comida na boca do irmão:

- Abre a boca.

Bento abre e não fecha.

- Agora fecha. - diz, pacientemente.

Bento fecha a boca e faz cara feia. Davi comemora.

- Isso, Bento! Que bom! Vc vai ganhar bananinha! Mamãe, o Bento comendo, se comportando, ele vai ganhar bananinha?

- Se comer tudo até eu terminar aqui, vai.

Davi continua: cada colherada, um parto, mas Davi segue paciente e fofo. "Abre a boca. Fecha a boca.". Bento reclama do tamanho da colher, dos ingredientes da comida e Davizão dando seu jeito. Eu só olho, brava com Bento, mas apaixonada pelo Davi. Resolvo filmar.

Uma determinada hora (saiu no vídeo, isso), Bento, que declaradamente não gosta de tomate, pergunta:

- Isso é tomate? (era tomate)

Davi:

- Não.

- O que é?

Davi sem pensar muito responde: 

- Pimenta. - e vai colocando a colher na boca do irmão, que come satisfeito.

Terminado o longo jantar, falo:

- Davi, você é um excelente irmão!

Bento:

- Eu gosto do Davi, eu não quero o Davi morrer nunca. Quando umas pessoas morrem, elas viram passarinhos?

- Não, viram estrelas - responde, convicto, o Davi.

- Umas pessoas viram passarinhos e outras viram estrelas. - Bento conclui. 

E assim, minha noite continua... 

Assistir esses meninos é um barato!















 



A fé não costuma faiá

O melhor aprendizado que incorporei na minha vida é ter fé de que tudo acontece, acontece porque foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Absolutamente tudo.

Ter fé nisso traz uma paz absurda em todos os momentos. E se você fica ligado na comunicação constante com o universo, ele dá um jeito de te comunicar isso. Um exemplo besta que acabou de acontecer:

Bento fez um risco enorme de caneta azul no nosso sofá bege novo. Um sofá de um tecido difícil de limpar, provavelmente não vai sair nunca. Quando eu vi, senti meu sangue ferver, tremi de raiva, muito ódio mesmo! Minha primeira reação foi:

- BENTOOOO!!!

Ele me olhou assustado. Parei aí, graças a Deus e a essa fé de que falei: tudo que acontece é a melhor coisa que poderia acontecer. Respirei fundo e consegui dizer calmamente:

- Poxa, filho, riscou com caneta azul o sofá... não pode!

- Eu vou limpar dileitinho.

- Não vai, não sai mais. Não faz isso nunca mais, tá?!

- Tá.

Sentei no sofá ainda pensando:

- Será que tenho que castigar? Dar umas palmadas? Que ódio!

Na mesma hora, o Spotify, que estava tocando músicas aleatórias, coloca pra tocar a música que escolhi para o Bento quando ele nasceu. Vieste, Ivan Lins. Música que não está em nenhuma playlist minha. Tocou. Nessa hora. Meu coração amoleceu e entendi o recado: está tudo bem. A liberdade desse serzinho lindo de explorar o mundo é muito mais importante do que mil riscos no sofá. Não era o que eu queria, mas é a melhor coisa que poderia ter acontecido. Te amo, filho fofo.

E assim, como num passe de mágica, meu coração está leve novamente e a vida segue...