Está mais difícil, parece. Claro. É natural. Apesar das pessoas que estão conseguindo implementar bons hábitos na pandemia, é mais comum e esperado que os velhos hábitos destruidores, que nos trazem algum alívio momentâneo, mas que a longo prazo nos deixam piores, estejam mais e mais tentadores.
A realidade que o COVID escancarou, da desigualdade social, é muito cruel. Não igualmente para todos, óbvio. Embora quanto mais perto da pobreza, mais triste a realidade seja, é triste para todo mundo. Fato. E se você, como eu, se reconhece no outro, na lucidez, a dor é constante.
E tem também o machismo estrutural que nos faz acreditar que nosso valor, como mulher, está na nossa aparência. No nosso peso. Tem que ser magra para ser bonita. E tem que ser bonita para existir.
E vem as informações contraditórias difundidas no mundo da nutrição: nao coma ovo; coma ovo. Óleos vegetais, açucar, gluten, laticíneos: vilões. Carnes e gorduras: moralmente condenados. Coma de três em três horas. Faça jejum. Jejum intermitente. Conte calorias. Acompanhe os Macros. Comida colorida. Déficit calórico. Faça HIIT. Musculação. Cardio. No mínimo, uma caminhada, vai.
Mas fique em casa. Não saia a não ser que seja para coisas essenciais. Não encontre com amigos. Não fique perto de pessoas. Use máscara. Não a de pano, a profissional.
Vem, vacina! Ah! Mas foi muito rápido, não confio. E os vídeos das pessoas que fingem aplicar a vacina, que horror?! A pessoa sai feliz achando que está protegida, e, assim, é mais uma que vai ajudar a eliminar o vírus, mas não. Não está e, sem saber, contribuirá da mesma forma que os anti-vacinas para um cenário catastrófico em que o vírus não apenas não morrerá, como poderá se fortalecer.
E tem a saudade dos abraços. Da família. Das festas. De viajar, para quem tinha esse privilégio já antes.
Os dias são longos, mas o ano é curto. Já é 2021, já vou fazer 40, mas continuo muitas vezes presa na mente estreita e infantil: nunca vai passar, sempre será assim, é mais forte que eu, você merece esse brigadeiro, enxaqueca, cansaço, preguiça ou depressão?
Esse não é um texto animado e com alguma resposta, mas cumpre seu papel de desabafo. De tirar de dentro de mim essa confusão, enquanto espero a impermanência trazer tempos melhores.
Só por hoje.