Levei o Davi na brinquedoteca pública de Guelph. É um espaço agradável, cheio de crianças pequenas acompanhadas de seus responsáveis, a maioria mães, alguns pais e alguns casais. Como o Davi nasceu no inverno, e o inverno do Canadá é terrível, fico muitos e muitos dias sem sair de casa. Passo muitos e muitos dias na companhia do meu bebê apenas.
A principal razão pela qual eu levei meu filho de apenas 2 meses na brinquedoteca foi para a mãe dele fazer amizade com outras mães, quem sabe conversar um pouco com alguém que não seja um bebê e desabafar sobre os perrengues da maternidade.
Eu tinha marcado com a mulher de um amigo do Carlos que tem duas meninas, Liz, de 4 anos, e Valerie, de 4 meses. Eu estava nervosa até, com aquela sensação de primeiro dia de aula na escola nova, sabe?! Pois é. Estava doida pra conversar com minha futura amiga, torcendo para ela gostar de mim! Já cheguei abraçando a mulher, que ficou toda sem jeito...
Chegamos, começamos a falar sobre os nossos bebês, sentamos com eles no chão, ela colocou a bebezinha dela sentada, eu fiz o mesmo com o Davi (2 meses) e disse:
- A Valerie está grande! Ela mal consegue segurar a cabeça.
O que eu queria ter dito é: "a Valerie está grande e ELE (o meu filho) mal consegue segurar a cabeça." Mas quando fico nervosa, meu inglês fica sofrível e volto a confundir coisas idiotas, como por exemplo
HE e
SHE. É ridículo, eu sei, mas em minha defesa posso dizer que não acontece só comigo. Já vi muito estrangeiro fazendo a mesma confusão.
Assim que falei, já percebi a mancada e fiquei arrasada. Fiquei pensando num jeito de desfazer o mal entendido sem ter que me explicar muito, já que o inglês aquele dia era um ponto fraco. Nisso a filha mais velha dela veio falar alguma coisa com a mãe e eu estiquei uma das minhas pernas, procurando uma melhor posição. A menina terminou de falar com a mãe, deu um passo para trás, esbarrou na minha perna esticada e PÁ! Espatifou-se no chão e começou a chorar.
Fiquei mais arrasada ainda! Justo eu, que queria tanto ficar amiga da mulher, já tinha ofendido a primeira filha e derrubado a segunda em menos de 10 minutos de encontro.
Mesmo tendo claramente começado com o pé esquerdo, ainda tinha esperança! Passei o resto da manhã tentando achar uma brecha para começar a minha sessão desabafo.Comecei reclamando da amamentação, que doía, né?! ... Não. Ela não teve nenhum problema com isso.
Comecei a falar da sobrecarga de trabalho e solidão... Não, ela também não tinha problemas em relação a isso. Consultou uma outra mãe ao lado, amiga dela e também mãe de duas crianças (um menino de 4 anos e uma menina de 9 meses). A amiga também era muito bem resolvida, obrigada!
Saí de lá me sentindo a louca do playground. Imaginei as mães fugindo de mim no próximo encontro, comentando entre elas:
Corram! Lá vem aquela reclamona desastrada outra vez!
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