domingo, 30 de março de 2014

Recuperando a forma

Recentemente descobri o Pinterest. Pra quem não me conhece e entrar no meu, vai achar que sou sarada! Saí marcando tudo quanto é vídeo de malhação e receitas saudáveis! Inclusive começaram a me seguir: "Ms. Health & Fitness" e "Stay fit clips". hahaha

Bom, o motivo de tanto interesse meu nos sites e vídeos para entrar em forma é eliminar os 17 quilos que ganhei na gravidez. Já perdi 10 até hoje: - 3 assim que voltei da maternidade, - 4 na semana seguinte ao parto, - 3 no último mês. E continuo na luta!!!

Como o Davi era muito pequeno para deixá-lo em casa e ir à academia, comecei com vídeos de ginástica para fazer em casa mesmo, sem nenhum equipamento especial. E haja força de vontade!!! 

É impressionante como tem coisa boa na internet. E ruim também, claro. O que quero compartilhar aqui hoje é uma aulinha de 10 minutos que me interessou muito pela chamada: uma mistura de dança (que eu amo) com ioga (que eu estou querendo amar). 

Vejam vocês, que exercício excelente para uma puérpera:
http://www.fitsugar.com/10-Minute-Buti-Class-Video-28580417

Não passei dos primeiros 2 minutos e fiquei com dor nas costas. Quem sabe consigo completar essa aula quando eu estiver realmente sarada! 

PS: É impressionante como tudo na vida é relativo! Essa foto é de 2009 e eu me achava gorda...

quinta-feira, 27 de março de 2014

A louca do playground

Levei o Davi na brinquedoteca pública de Guelph. É um espaço agradável, cheio de crianças pequenas acompanhadas de seus responsáveis, a maioria mães, alguns pais e alguns casais. Como o Davi nasceu no inverno, e o inverno do Canadá é terrível, fico muitos e muitos dias sem sair de casa. Passo muitos e muitos dias na companhia do meu bebê apenas.

A principal razão pela qual eu levei meu filho de apenas 2 meses na brinquedoteca foi para a mãe dele fazer amizade com outras mães, quem sabe conversar um pouco com alguém que não seja um bebê e desabafar sobre os perrengues da maternidade. 

Eu tinha marcado com a mulher de um amigo do Carlos que tem duas meninas, Liz, de 4 anos, e Valerie, de 4 meses. Eu estava nervosa até, com aquela sensação de primeiro dia de aula na escola nova, sabe?! Pois é. Estava doida pra conversar com minha futura amiga, torcendo para ela gostar de mim! Já cheguei abraçando a mulher, que ficou toda sem jeito...

Chegamos, começamos a falar sobre os nossos bebês, sentamos com eles no chão, ela colocou a bebezinha dela sentada, eu fiz o mesmo com o Davi (2 meses) e disse:

- A Valerie está grande! Ela mal consegue segurar a cabeça.

O que eu queria ter dito é: "a Valerie está grande e ELE (o meu filho) mal consegue segurar a cabeça." Mas quando fico nervosa, meu inglês fica sofrível e volto a confundir coisas idiotas, como por exemplo HE e SHE. É ridículo, eu sei, mas em minha defesa posso dizer que não acontece só comigo. Já vi muito estrangeiro fazendo a mesma confusão.

Assim que falei, já percebi a mancada e fiquei arrasada. Fiquei pensando num jeito de desfazer o mal entendido sem ter que me explicar muito, já que o inglês aquele dia era um ponto fraco. Nisso a filha mais velha dela veio falar alguma coisa com a mãe e eu estiquei  uma das minhas pernas, procurando uma melhor posição. A menina terminou de falar com a mãe, deu um passo para trás, esbarrou na minha perna esticada e PÁ! Espatifou-se no chão e começou a chorar.

Fiquei mais arrasada ainda! Justo eu, que queria tanto ficar amiga da mulher, já tinha ofendido a primeira filha e derrubado a segunda em menos de 10 minutos de encontro.

Mesmo tendo claramente começado com o pé esquerdo, ainda tinha esperança! Passei o resto da manhã tentando achar uma brecha para começar a minha sessão desabafo.Comecei reclamando da amamentação, que doía, né?! ... Não. Ela não teve nenhum problema com isso.

Comecei a falar da sobrecarga de trabalho e solidão... Não, ela também não tinha problemas em relação a isso. Consultou uma outra mãe ao lado, amiga dela e também mãe de duas crianças (um menino de 4 anos e uma menina de 9 meses). A amiga também era muito bem resolvida, obrigada!

Saí de lá me sentindo a louca do playground. Imaginei as mães fugindo de mim no próximo encontro, comentando entre elas:
Corram! Lá vem aquela reclamona desastrada outra vez!

Procura-se!



quarta-feira, 26 de março de 2014

Maridos perfeitos

Outra coisa que me deixa intrigada nos blogs de maternidade ou amamentação que leio são os maridos/pais perfeitos.

Eu tive muita dificuldade no começo da amamentação. Vários motivos: bico do peito chato, bico rachado, peito lotado, empedrado, dolorido, febre... Enfim, comecei até a achar que a dor do parto foi só um aquecimento para o que vinha depois: amamentar! Pois é, outra coisa super "natural" que pra mim foi extremamente dolorosa no início. Não foram poucas as vezes que amamentei chorando de dor, mas sorrindo por meu filho ter conseguido pegar o peito.

As comunidades de amamentação são ótimas, dão dicas e mostram relatos de outras pessoas também com dificuldades. O que eu achava incrível eram os comentários a respeito da participação do marido nessa etapa. Lembro bem de um que me marcou:

"Meus mamílos doem muito durante as mamadas, mas meu marido sempre massageia meus pés nessa hora e alivia um pouco a dor. Mesmo nas mamadas da noite, ele acorda para me massagear."

Bom, espero que os maridos de quem me lê sejam desses, mas eu não tive essa sorte... Foram raríssimas as vezes que o Carlos acordou durante a noite para me ajudar no ritual: mamada, arroto, troca de fralda. Ritual esse que às vezes durava a noite toda. Nas raras vezes em que acordei ele e pedi para trocar o Davi, ele ficou tão mal humorado que eu achei melhor fazer tudo eu mesma!

Sinto que o meu filho é responsabilidade totalmente minha. Meu marido considera qualquer participação dele uma ajuda em vez de uma obrigação. A vida dele mudou muito pouco depois do filho, já a minha é completamente outra. Claro que sou eu quem amamenta, mas e o resto? Acalmar, banho, fazer dormir, brincar... Não que ele não faça nada disso, ele até faz, mas pra "me ajudar".

Não estou reclamando da minha vida, ela mudou pra melhor. Sinto-me abençoada por ter a família que tenho, mas que existe uma questão filosófica a esse respeito (dos papéis do homem e da mulher após o nascimento do filho) rondando minha cabeça, isso sim!

segunda-feira, 24 de março de 2014

Relato de um parto real

Acabo de ler numa comunidade do facebook "Indiretas Maternas", o relato de uma mulher que, ao descrever o parto dela, diz:

"Para as colegas que desejam ajudar o filho a nascer pelo parto normal, saibam que não existe dor, mas sim, uma força que o corpo faz para trazer a criança ao mundo e que a calma e a respiração são o segredo de um bom parto." (...) "O corpo faz tudo sozinho, a gente só dá uma forcinha."   
Juliana Feliz, jornalista, mãe de 3 meninas, sendo duas parto normal e uma natural.

Ela repete que o corpo sabe o que fazer, que não há dor e que é só uma questão de manter a calma. E ainda, que após o nascimento não sentimos mais nada, só uma grande emoção de ouvir a criança chorar e amamentar. 


Foi por causa de relatos desse tipo, que generalizam a própria experiência, tipo "é assim que é o parto normal", que meu parto vaginal foi tão traumático. Eu li tantos relatos de partos normais lindos e cesáreas terriveis, que estava certa de que eu queria parto normal, natural e sem nenhuma interferência, pois, afinal de contas "o corpo sabe o que faz", não é?! Ainda tive a "sorte" do meu filho nascer no Canadá, onde a regra é parto normal a (quase) qualquer custo.


A verdade é que cada parto é um e não há como generalizar. Há situações em que cesárea é a melhor alternativa, sim. E a culpa não é do médico que quer maior comodidade pra vida dele. Sei que isso lamentavelmente acontece, que existem cesáreas desnecessárias e médicos folgados, mas não dá pra generalizar dizendo que parto normal é o certo e crucificar a cesárea. A ponto, inclusive, de algumas mulheres se sentirem mal por terem feito uma cesárea! Ou outras se sentirem superiores por terem tido parto normal!


Parir é uma dádiva! É um divisor de águas, uma experiência transformadora, não importa a forma como foi o parto. Aqui vou contar a MINHA experiência de parir por via vaginal meu primeiro filho. Antecipo que não foi nada como eu tinha imaginado.


Desde que engravidei comecei a ler muito sobre esse universo de gravidez, maternidade, educação infantil... tudo lindo no papel! Li um livro inteiro sobre parto natural e estava decidida que queria meu parto natural e de cócoras, para ter maior abertura do canal vaginal e ajuda da gravidade na hora da expulsão. Li coisas horriveis sobre qualquer intervenção médica nesse processo divino e natural que é parir! 


Optei por parteira (midwife) em vez de obstetra. Decisão acertada, pois os médicos aqui no Canadá são extremamente distantes do paciente e só com a midwife tive aquela sensação de acolhimento, que tinha com meus médicos no Brasil. Elas são atenciosas e interessadas na nossa vida. 


Agora senta que lá vem a história...

Eu completaria 38 semanas de gestação num sábado. Na quarta-feira anterior, à 1:45 am (madrugada), levantei-me para fazer xixi, como todas as noites nas últimas semanas de gestação. Acontece que desta vez, percebi que havia escorrido umas gotinhas de água (?) antes que eu tivesse chegado ao banheiro. Coisa pouca, gotas: less than a tablespoon, como descrevi pra midwife. 
Mesmo assim, achei estranho e anotei a hora ao voltar pro quarto. Imaginei que minha bolsa tivesse rompido e iria esperar pelo famoso aguaceiro que dizem que é. 

Passei o dia todo sentada num evento de trabalho. Nada de aguaceiro. Na quinta-feira cedo, porém, acordei cismada com aquelas gotinhas. Ao me levantar, senti novamente descer mais gotinhas e, então, liguei para a emergência da midwife dizendo que suspeitava de que minha bolsa tinha rompido.

Frustração #1: Você VAI SABER quando estiver em trabalho de parto ou quando a bolsa romper, não se preocupe!

A midwife me pediu para ir até o consultório para exame. Tomei banho, troquei de calcinha e cheguei lá sequinha para o exame. Ela pegou um cotonete de cabo comprido e pontinha alaranjada e passou no colo de meu útero, para detectar líquido amniótico: NADA. Ela disse, então, que poderia ser que durante a noite meu corpo esquentava e ao me levantar parte do tampão mucoso que havia se liquefeito à noite, escorria. Eu pedi para levar um cotonete desses  pra casa, pra eu checar caso acontecesse novamente.

Minha irmã é médica (cardiopediatra) no Brasil. Quando contei pra ela, por whatsapp, o que tinha acontecido ela respondeu: "isso é bolsa rota, sim! Vá para um hospital!". Como as coisas aqui funcionam diferente do Brasil, eu precisava da indicação da midwife pra dar entrada no hospital e, pra isso, precisava de uma prova de que a bolsa tinha rompido. 

Passei o dia esperando uma "gotona" pra não desperdiçar o palitinho com o indicador. Naquela noite, às 21:45, estava deitada, senti novamente a gotinha e coloquei o palitinho imediatamente. Resultado: pontinha preta = líquido amniótico. Bingo! 
Minha bolsa estava rompida (há quase 48 horas). Ligamos para a midwife que disse: já que acabou de ser detectado, vamos assumir que acabou de acontecer e contar 24h a partir daqui para entrar com qualquer intervenção.

Frustração #2: Quando a bolsa rompe, é um aguaceiro danado! Não tem dúvida!

Eu insisti que tinha certeza de que não havia acabado de acontecer, pois foi a mesma sensação da quarta-feira e que gostaria de ir ao hospital o quanto antes. A bolsa rompida expõe o bebê a risco de infecções eu estava com medo. Marcamos então no dia seguinte, 8 da manhã, no Guelph General Hospital.


Fomos caminhando ao hospital

Mal consegui dormir aquela noite de tanta ansiedade. Acordei às 6 am, tomei um banho demorado, fiz hidratação no cabelo, depilei. Minha mãe, que tinha chegado naquela semana, bateu na porta do banheiro preocupada com minha demora e eu estava lá, calma e feliz, me embelezando para receber meu filho e ele me achar bonita! Saí do banho e não quis tomar café da manhã, pois não era bom parir de estômago cheio. Pedi pra minha mãe fazer arroz maria isabel pro almoço, quando eu voltasse com o bebê. Pensa numa pessoa otimista!!! 


Sexta-feira, 8 am: Dei entrada no hospital, mas só consegui leito na triagem às 10h. Depois que tive meu leito, fiquei deitada lá por um tempinho e comecei a sentir umas contrações leves e espaçadas. O Carlos e eu comemorávamos cada uma como quem comemora um gol da seleção na Copa! 

Como minha bolsa já estava rompida há muito tempo, chegamos* à conclusão de que o parto deveria ser induzido, já que eu não entrava em trabalho de parto naturalmente. Nesse caso, o cuidado principal passa a ser da obstetra e não mais das midwifes. As midwifes assumem novamente quando o bebê nascer. 


*eu disse "chegamos" porque aqui no Canadá, o paciente é quem decide tudo. O cuidador (médico ou midwife) indica as opções que você tem, prós e contra, e você escolhe. No meu caso, as opções apresentadas foram: induzir o parto ou esperar mais 24 horas pra ver se você entra em trabalho de parto. Não se mencionou a opção cesárea.

A médica, então, veio me ver e se apresentar. Eu perguntei pra ela se eu poderia ter o parto na vertical, para usar a gravidade como aliada na hora da expulsão do bebê. Ela fez uma cara estranha e perguntou se eu me referia ao "labor" ou "delivery". Eu confirmei: "aos dois!", toda natureba... Ela falou "tudo bem, mas na hora que eu falar pra você deitar, é pra você deitar!". E saiu. 
Na sala de espera do hospital

12h: Fui pra sala de espera, comi um pedaço de bolo de fubá que eu tinha feito, mas só consegui quarto às 15h. A essa altura eu já estava exausta, faminta e com enxaqueca. As enfermeiras estavam ocupadas e tivemos que esperar mais 2 horas no quarto. Durante esse tempo, o Carlos e eu ficamos dando voltas pelos corredores do hospital, ritmo de caminhada acelerado, na tentativa de ajudar o tal processo "natural"... Viramos piada das enfermeiras e faxineiras que nos viam passar quase correndo a cada 5 minutos. O trabalho de parto que aparentemente havia começado por volta das 10:30 da manhã, tinha desaparecido completamente. 



Frustração #3: Seu corpo saberá o que fazer!

17h: A enfermeira chegou, me "amarrou" na cama, conectada a uma máquina que monitorava as minhas contrações e os batimentos cardíacos do bebê. Hora de, finalmente, iniciar o soro com ocitocina, hormônio para induzir o tão esperado trabalho de parto!


Ela pegou o meu braço e disse "vc tem a veia alta, boa de pegar!". Primeira tentativa... Ops! Ela perdeu a veia "bem na hora que já estava quase lá"! Segunda e terceira tentativas... mesma coisa! Eu já frustrada de ver meu braço furado em vários lugares - e dolorido! Isso porque a minha veia era boa, ne?! 

Frustração #4: Você tem a veia boa, fácil de pegar! 

A coitada ficou tão mal que resolveu chamar outra enfermeira para aplicar, pois ela tinha desistido de me furar. A outra infermeira veio, conseguiu de primeira, graças a Deus!, e colocou o soro. Nessa hora eu já tinha a sensação que ficaria conectada pra sempre ali naquele soro e senti pena das pessoas que vivem em hospitais tomando remédio na veia. Pensei no Gus, meu amigo querido, que passou o fim de sua vida curta sofrendo horrores! 

Comecei a chorar, achando que ia morrer. A midwife, que apesar de não ser mais a responsável por mim naquele momento acompanhou tudo e foi maravilhosa, olhou bem pra mim e disse: "Lia, eu te prometo que você não vai morrer hoje! 100% de certeza que você não vai morrer hoje." Parece besteira, mas fez uma puta diferença pra mim. 

18h: A médica apareceu, juntamente com um estagiário, e os dois mediram minha dilatação: 3 cm. As contrações começaram, doloridas já. Entre uma e outra realmente havia uma folga de bem estar, até a outra contração. Sentia uma pressão horrorosa na lombar, não havia posição agradável, eu não podia andar e a cada mudança de posição era uma luta para encaixar os sensores novamente. Estava sem graça já, pois eu mudava de posição, a enfermeira ficava um bom tempo arrumando os sensores novamente no lugar e quando o sinal finalmente era bom, eu já queria mudar de novo. Não havia posição boa. As contrações começaram a ficar muito doloridas e demoradas - quase um minuto que parecia uma hora! Era muito difícil até continuar respirando, mesmo que essa fosse a instrução.


Frustração #5: Não há dor, só amor!

23h: Mais uma vez a midwife foi essencial. Conversava comigo durante as contrações, me animava. Arrumou até uma bola de pilates pra eu sentar, pois a dor deitada era de matar! Infelizmente, os sensores não ficavam no lugar quando eu estava na bola e, por isso, nao pude usar muito tempo. Fiquei em pé me balançando de um lado pro outro, ao lado da cama e do tal equipamento que monitorava tudo. Ela também me trouxe suco de laranja e bolacha água e sal, que foi como um banquete pra mim naquele momento. Já eram 11h da noite e eu estava praticamente o dia todo sem comer.

Na hora da contração ela me mandava abraçar o Carlos, de quem eu queria distância naquela hora. Eu olhava pra minha barriga enorme, queria o meu bebê fora dela, mas não via um jeito pacífico de se fazer isso. Disse para o Carlos que eu não queria mais engravidar, que o próximo filho seria adoção. Estava desesperada, sem ver um caminho bom para meu futuro próximo naquele hospital. 

~3 am: Depois de 10 horas de contração, 10 horas de trabalho de parto, a médica veio checar a dilatação. Ela e o estagiário novamente. Ele primeiro, ela depois. Resultado: 3 cm! Os mesmos 3 cm de antes! Disseram que eu estava tendo contrações ineficientes. Eram doloridas como as outras, mas não provocavam a abertura do útero. Excelente, não?! 

Frustração #6: Seu corpo saberá o que fazer!

Pra melhorar, a médica começou a arranhar o colo do meu útero para ajudar, acho. Mas aí começou a pior dor da minha vida! Antes, as contrações, por mais que doloridas que fossem, davam um momento de folga em que eu podia respirar aliviada mesmo que por alguns segundos. Porém, depois desse negócio que ela fez em mim, eu tinha as dores fortes das contrações e uma dor horrivel nos intervalos. Eu estava machucada! Traumatizada! Fraca! As dores eram horríveis e ininterruptas. Já estava desmaiando de dor, quando implorei pela epidural, me sentindo derrotada. A enfermeira havia oferecido a epidural outras vezes, mas eu relutei. Queria o mínimo de intervenção possível. Havia lido coisas horrorosas sobre as intervenções nesse processo "natural" que é o parto. 

Nessa hora, porém, eu estava entregue. Mais de 10 horas de trabalho de parto ineficiente, embora, extremamente doloroso tinham se passado e eu estava apenas com 3 cm de dilatação. A midwife me apoiou na decisão, disse que se existia algum caso para indicação de epidural, o caso era aquele meu. Havia uma fila de espera, mas eu tive prioridade por ser um parto induzido. 

Mito #7: Epidural é uma intervenção maligna, de mulher fresca.

4 am: O anestesista foi como um anjo. Lembro de flashes da presença dele, pois estava anestesiada de dor. Só sei que ele parecia um anjo. Eu deitei de lado, totalmente entregue e relaxei! Ele saiu, a midwife me disse para dormir um pouco. Eu continuava a sentir dor, claro que nada comparado ao terror pelo qual havia passado especialmente nas últimas horas (principalmente depois que a médica arranhou meu útero), mas sentia as contrações. Impossível dormir. 

Chamei a enfermeira e disse que ainda estava sentindo dor, que eu achava que a dose não tinha sido suficiente. Ela disse que fazia menos de 15 minutos que eu havia tomado a epidural e que levava um tempo para fazer efeito. Acontece que as dores só aumentavam e pedi, por favor, pra ela me dar um reforço. 
Ela disse que nunca tinha visto o médico dar reforço tão próximo da aplicação, mas que iria falar com ele.

Eu precisava ir ao banheiro e ela disse que era impossível, que eu não podia mais me levantar. Colocou um papel absorvente do lado da minha bunda e disse que eu podia fazer ali mesmo, deitada. Olha a situação!!! O Carlos então assumiu o posto, disse que ficaria ali comigo e ela saiu pra me dar mais privacidade e chamar a médica para ver se podia aumentar minha dose de anestesia.

Assim que ela saiu, e eu tentei relaxar. Nesse momento, senti o Davi saindo! Falei pro Carlos: está nascendo, corre e chama a enfermeira! É o Davi! É o Davi! Tive que fazer força de fechar a vagina durante as contrações, pois a minha impressão era que o Davi ia sair aquela hora.


A enfermeira voltou com a médica e o estagiário, de novo. Ele colocou a mão em mim, ficou um tempo lá, tirou sem me falar nada. Como das outras vezes. Veio, então, a médica. Ela encostou o dedo em mim e puxou imediatamente a mão de volta, dizendo: "Opa! Temos uma cabeça aqui!Está nascendo." O Carlos, coitado, olhou pra mim sorrindo querendo comemorar e eu disse, brava: "Para! Nós só vamos comemorar quando esse menino estiver nos nossos braços!".


Ás 5 horas da manhã de sábado, quase 24 horas depois da nossa entrada no hospital e de uma noite toda de dores terríveis, fizeram um semicírculo ao redor da minha vagina, todos olhando (duas enfermeiras, médica, estagiário, midwife e Carlos). A médica me pediu para colocar a mão para sentir a cabeça que já tinha coroado, mas eu não quis. Ela insistiu e eu acabei colocando a mão só porque estava todo mundo me olhando com cara de "como assim não quer sentir esse momento mágico?!"...


A médica, então, começou a mandar: Push push push STOP! Push push push STOP! little push little push STOP! E assim o meu filho foi saindo. Eu empurrava com todo meu útero, corpo e coração aquela criança até que às 5:21 am, ele escorregou todo e foi colocado imediatamente no meu colo, todo ensebadinho. Saiu fazendo xixi e assim que foi colocado no meu colo, fez cocô. O mecônio, um cocô escuro e preguento.

A dor dessa hora pra mim, não foi a da contração, foi uma sensação de queimar, de rasgar - o que de fato aconteceu em 3 lugares diferentes do meu períneo. A hora de passar a cabeça foi difícil, principalmente na parte do STOP. Depois tive uma folguinha de segundos, aí a hora de passar o ombro foi super dolorida também. Depois senti o resto do corpinho dele escorregar. Essa sensação sim, foi uma delícia!


O estagiário e a médica começaram a me costurar - sem anestesia! - enquanto eu tentava amamentar o meu filho com soro no braço e destreza de mãe de primeira viagem. 

Frustração #8: "após o nascimento não sentimos mais nada, só uma grande emoção de ouvir a criança chorar e amamentar."  >>> Mas isso é assunto pra um outro post! 

O Davi nasceu dia 14 de dezembro, 5:21 am, com 3,190 kg e 49 cm. Um menino lindo e eu sou completamente apaixonada por ele! 


Eu, no momento em que virei mãe
Como viram, o parto foi vaginal, mas nada "normal". 

quinta-feira, 20 de março de 2014

Sou a Lia, muito prazer!

Finalmente a ideia do blog saiu do papel e começou a ganhar forma! Acredito que será terapeutico compartilhar nesse espaço alegrias e dificuldades e filosofar sobre a vida, sem a menor pretensão de estar certa.

Sou uma mãe, mulher, brasileira (goiana), nessa ordem de importância. Estou morando no Canadá, fazendo meu doutorado aqui. Engenheira, casada, estudante, dona de casa. Penso demais, me preocupo muito mais do que gostaria, mas vivo em busca de paz interior. Tento ser uma pessoa melhor a cada dia e, por isso, estou em constante transformação. Um terapeuta me disse uma vez que tenho a racionalidade bem desenvolvida, mas meus sentimentos são selvagens e não tenho o menor controle sobre eles. Acho que ele tinha razão quanto a essa segunda parte e estou trabalhando nisso! Ultimamente, focada na evolução pessoal!!!

Ah! E nunca estou sozinha. Estamos nós: eu e a Estela, minha amiga de alma e minha irmã escolhida! Esse blog será sobre nossas vidas reais!



Sejam bem-vindos!