Uma das coisas mais legais desse blog é retomar ou criar contato com pessoas queridas espalhadas ao redor do mundo. Uma delas é minha prima Sarah Mendes, lá de Goiás, que vive na Espanha. A Sarinha, assim como eu, teve um natal especialmente iluminado ano passado. Iluminado pela chegada dos nossos filhos. Pedi que ela me mandasse a história dela para eu postar aqui. Leiam abaixo mais uma história real, o nascimento da princesinha Ainhoa!
"Aqui começa a minha luta….
Como todas as mulheres que engravidam por primeira vez, li muitos livros, páginas da internet, fui a grupos de ajuda para aprender como respirar duranto o parto, como amamentar, primeiros cuidados do bebe, etc…e claro em tudo isso existe a exagerada “adoração” pelo parto normal e a amamentação.
Eu sonhava com o parto normal, e ainda por cima dizia que nao quería epidural porque sou forte (já veremos!) e tinha muito medo da cesárea porque minha mãe fez 4 e lembro que em alguma delas teve problemas, daí o meu medo.
Tive uma gravidez espetacular, só sabia que estava grávida porque a cada dia minha barriga crescia. Nao tive náuseas, enjoos, nada de nada, além disso eu que sofria há anos de enxaqueca, não soube o que era dor de cabeça durante 9 meses, isso me deixava encabulada e orgulhosa de nao estar o tempo todo reclamando da gravidez. O tempo foi passando e tudo ia muito bem. Meu parto estava previsto para dia 14/12/13.
Quando completei 36 semanas minha médica me disse que minha filha tinha 3 semanas de diferença a menos que eu, ou seja, ela tinha 33 semanas, e isso neste momento não era tão preocupante, porém tínhamos que acompanhar com mais cuidado. Fazia ultrassom a cada 3 semanas, e logo vimos que minha placenta era insuficiente, com isso minha filha nao crescia o que deveria crescer. A doutora neste dia falou que provavelmente teríamos que adiantar o parto, isso me caiu como uma bomba, me sentía a pior mãe do mundo, por não ter a placenta “boa” para ela, saí da consulta chorando.
A partir deste dia tinha que fazer acompanhamento a cada 2 dias para comprovar os batimentos cardíacos dela.
No dia 06/12 tinha outra vez acompanhamento, estava de 38 semanas + 6 dias, eu e meu marido acordamos, tomamos o café e fomos para o hospital. Fomos atendidos às 11:00, aqui sao chamadas “Matronas” (estudam enfermería e logo faz um tipo de especializaçao) que acompanham a gravidez e muitas vezes fazem o parto se for normal e não tiver complicações.
Colocamos os monitores e ficamos observando…em um determinado momento meu marido viu que algo nao ia bem nos monitores, então falou com a matrona e esta chamou a ginecologista, que depois de um tempo observando falou: “ pode se preparar porque sua filha nasce hoje, temos que provocar seu parto!”. Imaginem o susto! Sentia uma mistura de alegria por já poder ver minha filha, e ao mesmo tempo um desespero por não ter sido da forma que sempre sonhei. Meu marido teve um papel fundamental neste momento, me apoiou, deu força, e sempre repetía “logo logo teremos nossa princesa em nossos braços!” isso me dava algo de forças.
A PREPARAÇÃO
Subimos para a sala de preparação para o parto, me colocaram o soro com a oxitocina e monitores as 12:30, neste momento já estava mais tranquila e até feliz pela situação, nao tinha dores, não tinha contrações, achava que era a mulher mais forte do mundo… Logo eles estouraram minha bolsa, isso sim foi desagradável, fiquei com uma especie de “pinico” porque saia o líquido o tempo todo. Logo começaram as contrações, e a partir daí foram aumentando... Neste momento me dei conta que não era tão forte como imaginava, porém continuei aguentando, sem anestesia, porque claro, em todos os livros, cursos, etc…dizem que a epidural atrasa a dilatação e eu não quería atrasar meu parto.
Foram 7 horas de contrações, sentía fome e não podía comer nada, sentía vontade de fazer xixi a cada minuto, e era aquela correria, tira monitores, põe monitores... chegou um momento que a matrona falou (como falaram para a Lia) "faz xixi aí mesmo" (no tal pinico, que horror). Depois de 7 horas de dor, tinha dilatado APENAS 2 centímetros! Incrível! Neste momento já não aguentava de dor, foi aí que literalmente gritei: “onde tá o anestesista quero a epidural agora!” (cade a super mulher que eu era???).
Colocada a epidural consegui relaxar um pouco, mas logo a doutora chegou e viu q a coisa nao ia muito bem que não podíamos esperar mais, minha filha já entrava em sofrimento fetal, tínhamos que partir para a cesárea. Outra vez o chororo, outra vez me sentía impotente por nao ser capaz de dilatar e ter o sonhado parto normal.
O PARTO
Chegou a grande hora! Tive que me separar do meu marido, ele que esteve todo o momento ao meu lado, me dando apoio, até massagem fazia para aliviar as contrações, mas ele não podia entrar na sala de parto.
Fui levada para a sala de parto, foi tudo muito rápido, sentia tudo, tive até que pedir mais anestesia porque sentia o corte, a pressão que faziam na minha barriga, tudo! Estive completamente consciente durante todo o parto.
Passado alguns minutos escuto aquele chorinho mais lindo, aquele que faz qualquer um chorar de emoção, mas cadê minha filha??? Eu a escutava mas não a via. Ficaram todos ao redor dela e cochichavam entre eles. Este momento foi o pior de todos, só quería ver minha filha, coloca-la no peito, como todas sonhamos, mas isso nao aconteceu... Não me davam a minha filha e não me falavam nada. Quase levantei da cama com todos os tubos que tinha, por puro desespero!
Logo a matrona chegou perto e falou : “Calma, sua filha está bem, mas nasceu com pouco peso e terá que ficar em observação”. Outrooo susto, isso nao ia acabar nunca?? Mas mesmo assim, se ela estava bem porque nao podia vê-la??
Depois de um tempo, que para mim foi eterno, me trouxeram aquela coisinha tão pequena, porém linda! Mas só pude dar um beijo nela, nada mais! Outra vez não foi como sonhava! Terminaram de me “costurar” e me levaram para a sala de recuperação. Estando alí a matrona que viu meu desespero, trouxe minha filha e a deixou um tempo comigo, mas não pude dar o peito, estava muito debilitada pela cirurgia.
Logo deixaram meu marido entrar, nunca tinha visto aquela expressão nele, quando nos viu estava pálido, quase desmaiou. Foi aí que descobri que a agonia dele foi muito maior, por estar fora quase 1 hora e não saber absolutamente nada. Então ele respirou fundo e nos beijou, completamente iluminado, com aquela alegria que só nós que somos pais sabemos como é. Passaram alguns minutos e tiveram que levar minha pequena para a sala de recém nascidos para passar esta noite em observação.
A RECUPERAÇÃO
Fui para o quarto, mas me sentia incompleta por não ter minha princesa comigo. Meu marido passou a noite comigo, eu que estava completamente debillitada, não podía levantar, não podía comer, estava um caco. Tentei dormir, mas a cada x tempo entrava a enfermeira para trocar a sonda, colocar soro, etc… Meu marido também não dormiu muito, porque a cada momento ia ver nossa filhota.
Na manhã seguinte trouxeram minha princesa. Ela tinha passado muito bem a noite e com isso já poderia ficar no quarto comigo. Éramos só alegría, mas ela tinha que ser controlada a cada dia, tinha que dar mamadeira para saber exatamente quanto comia, porque no peito nao dá para controlar. Como ela nasceu com pouco peso era aquele cuidado com tudo, pesava todos os días, controlava o nível de glicose,etc… Mas logo ela começou a perder peso, e se chega a 2 kg tem que ir para incubadora.
Mais uma vez aquela dor, aquele sofrimento, a cada dia ela perdia mais peso. Já estávamos no hospital a 5 dias. No sexto dia a situação era desesperadora, tinhamos problemas com o plano de saúde, minha filha só perdia peso,era um problema atrás do outro. Neste dia veio o pediatra chefe para vê-la porque já era preocupante. Ele trouxe a balança para o quarto e fez todas os testes que tinha que fazer. Resultado: ela tinha engordado 300 gramas, o suficiente para poder ir para casa. Foi só alegria! Eu e meu marido nos abraçamos e choramos de alívio!
Até hoje não sabemos se as enfermeiras estavam errando na hora de pesar, mas o que interessa mesmo é que afinal podíamos ir para casa, depois de 6 dias de angústia.
Ainhoa nasceu às 21:00 do dia 06/12/13, com 2,190 Kg e 46 cm. Hoje com quase 4 meses pesa 5,320 kg, mede 56 cm e está super saudável, linda e esperta!
CONCLUSÃO
Hoje vejo que temos que fazer o que é o melhor para nós e nossos filhos, se não dá para ser um parto normal, não dá e ponto, não temos que nos culpar, não somos inferiores por isso. Tenho claro que para o próximo parto quero diretamente a cesárea e com a consciência tranquila.
Chega de ser escrava da sociedade que impõe o que temos ou não que fazer!"
Sarah Mendes