Imagino que todo mundo que me conhece sabe o quanto valorizo meu aniversário. É um dia em que me sinto diferente desde a hora em que acordo - cedo, nesse dia, pro dia ser bem longo - até a hora em que vou dormir - depois da meia noite, nesse dia, para aproveitar até o último segundo. E não trabalho no meu dia também não. É feriado religioso, na minha religião.
Acredito que uma forma importante de autoconhecimento é olhar para nossos relacionamentos e para como os outros nos enxergam. Nós temos uma idéia de quem (achamos que) somos, mas ela só é verdadeira se os outros nos percebem da mesma forma. Assim como a comunicação é definida pelo ouvinte, nós somos, em última análise, quem os outros percebem.
Eu lembro que (aviso gatilho: bullying) meus irmãos me chamavam de "soja" quando criança, que não tem gosto de nada, fica com o gosto do que vc cozinha junto com ela. E penso que eu também acreditava nisso, pois nunca tive - na minha percepção - nenhuma característica própria muito forte, que ressaltava em mim e me diferenciava dos outros. Eu era o que todos em minha volta eram: normal. Na verdade, ainda penso assim.
Nessa jornada pessoal de autoconhecimento, a minha maior busca é, confesso: saber quem sou. Eu, honestamente, não sei. Sei o que sinto em alguns momentos, mas sei também que estou em transformação constante. Situações e pessoas que me abalavam em algum momento do passado, hoje não me tocam de forma alguma ou, até, provocam reação oposta à que costumavam provocar.
Minha autoimagem é de uma pessoa fácil, leve. O que parece não ser a percepção dos que convivem diariamente comigo.
Uma coisa que tenho tentado fazer é olhar para todos os meus desconfortos como oportunidades de ouro para me conhecer, finalmente. Quero desesperadamente saber quem sou, me definir de alguma forma, me entender.
Sei bem quem eu quero ser. E sei que não cheguei lá. Mas não sei quem sou hoje.
Ontem passei o dia com pessoas queridas, lendo mensagem de todos e buscando nelas um pouco sobre mim, embora ciente de que no aniversário todos falam só das coisas boas. É uma amostra bem parcial de nós e, portanto, não confiável. Mas tive também, como tenho diariamente, a oportunidade de entrar em contato com a parte minha que não é socialmente aceitável. A parte que grita, que não escuta o outro, que não tem paciência, que é egoísta ao extremo. Essa, quando aparece, me domina e me cega. Só consigo refletir sobre ela depois.
Penso que já melhorei muito. Não me altero emocionalmente mais por futebol e me sinto aliviada por isso. Mas talvez só porque não estou mais assistindo ou seguindo nenhum campeonato. Cortei o estímulo. Deu certo, vivo emocionalmente muito melhor sem ele.
Divergências políticas, entretanto, ainda despertam o "pior" em mim, o mais selvagem e passional. Tocam num ponto de extrema sensibilidade. O caminho do desapego nesse campo ainda é longo e estou só no começo, consciente da necessidade de mudar isso.
Mas esse nem era o rumo que eu queria dar pra esse texto. Comecei a escrever porque não conseguia trabalhar sem compartilhar minha profunda gratidão por todas as pessoas que fazem parte da minha vida. Sou um pedaço de cada um em cada hora. Reparei que todas as mensagens que falavam de alguma característica específica "minha", vinha da pessoa que a tinha, especificamente.
Portanto, meus amigos, eu sou mesmo um espelho do que vcs vêem em mim. Eu sou soja mesmo, sou todos vocês e sou feliz por isso. Feliz pelo privilégio de ter nascido na família em que nasci, ter feito as escolas/escolhas que fiz, ter conhecido as pessoas que conheço. Todos, juntos, me trouxeram até aqui e ao que sou, hoje.
Minha gratidão imensa e todo meu amor! Vocês me emocionaram muito ontem e me senti pertencente a uma coisa muito maior que eu. Obrigada por isso. Sei que não estou sozinha e nada do que fiz de bom até hoje é mérito exclusivo meu. Esse doutorado, inclusive, que - oxalá - está com os dias contados, não é um trabalho meu. É de todos nós. Dos amigos pacientes com a minha ausência, da minha família no Brasil que se reorganiza de todas as formas e quantas vezes forem necessárias para que eu continue caminhando, dos meus filhos que empurram meus limites diariamente, dos amigos do Canadá que me acolhem como família - e me sinto assim, em família! - enfim, GRATIDÃO é o que emana de mim hoje e que estava me impedindo de trabalhar sem ser compartilhada.
Muito obrigada!
Agora deixa eu continuar tocando o barco, porque a mão que vai digitar a tese é essa aqui e cada minuto conta. Vamos que vamos!
Você pode ser soja, mas é especial, sim. Você agrega. Você traz o melhor de nós. Força aí que estamos na torcida sempre!
ResponderExcluirAi, que fofa! Obrigada, Mai! A torcida é mútua! <3
ExcluirLiazinha! Não conhecia seu blog! Adorei. Vou ler mais. Rs
ResponderExcluirNos conhecemos tão pouco mas posso afirmar com toda a certeza que de "sem graça" você não tem nada. Pelo contrário te enxergo uma mulher de personalidade bem forte!
Acho q amor e amizade é isso né? Quando as pessoas querem estar com a gente mesmo sabendo da nossa personalidade. :)
Conte sempre comigo. E obrigada por tudo.
Engraçado que sinto que somos amigas de infância desde quando te conheci naquele churrasco da sua turma. hahaha Que aspecto da minha personalidade vc acha forte? Pode falar, que eu aguento! hahahaha Beijo imenso, amiga!
ExcluirLuiza Bandeira Lia, pra mim você sempre vai ser a menina que me acolheu em São Paulo sem nem me conhecer no dia em que tinha comido pizza no café da manhã antes de uma corrida porque o treinador mandou tomar um café da manhã reforçado! Hahahaha! Amo essa história e tenho muito carinho por você (e ainda me identifiquei muito com o texto) Beijo grande e parabéns atrasado!
ResponderExcluirhahaha nem lembrava dessa, mas só por não ver nada estranho nessa escolha da pizza pré-corrida como opção perfeita de café da manhã reforçado, sei que aconteceu! Luiza, conviver com vc aqueles dias em SP foi uma imensa sorte minha! Fico muito feliz de ver vc voando alto e longe! Vc é muito querida e me orgulho de cada texto seu que leio! Vc é excelente e necessária no seu trabalho! Obrigada pelo carinho! Beijo imenso! *PS: eu ainda fico chateada quando lembro que um motorista de taxi em São Paulo te passou a perna com o troco, quando vc estava indo me encontrar num samba, lembra?!
ExcluirLuciana Rangel Oi Lia!! Não consegui comentar lá (e nem te dar feliz aniversário no dia certo rsrs então parabéns atrasado!!). Adorei o texto e se vc for soja, para mim é uma soja muito feliz, sorridente, simpática, do tipo que se gosta. Nunca fomos super próximas na faculdade, mas para mim vc era "aquela veterana legal que sempre sorri!". Sinto em vc uma vibração muito boa pela vida, do tipo de gente que pisa firme e sonha grande, que gosta de viver, e viver com simplicidade de ser! Bjãoooo
ResponderExcluirLia Sousa Que fofa, Lu! Muito obrigada pela mensagem linda! Engraçado, e só comprovando a teoria dos espelhos, é que eu te via da mesma forma: a bixete que emanava uma energia muito boa, leve, serena, embora cheia de vida e garra, que eu adorava encontrar! Provavelmente eu sorria ao te ver, porque era alegria que vc despertava em mim! E me reconectar com vc hj, nessa fase da vida em que vivemos mais uma vez realidades parecidas (hj mães de crianças pequenas), é um presente pra mim. Sinto que temos muito em comum e que estamos, de alguma maneira, energética até, nos ajudando nessa jornada. Obrigada, querida!
ExcluirLuciana Girardi Francisco Lia Linda!!!! Num consegui comentar por lá mas vc é simplesmente incrível amiga
ResponderExcluirAmiga , sojinha ... Não consigo ficar brava com você , nem com o futebol , muito menos com seu comportamento passional em relação à política ... Sinto saudades de você .. Sempre estaremos juntas mesmo longe .. Beijos
ResponderExcluirQue pessoa linda é vc, amiga! Queria ter o seu controle emocional e a sua paciência em discussões de qq natureza! Saudades de vc tenho eu! Te amo!
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