Uma grande evolução na percepção das coisas, na minha opinião, é entender as dualidades na forma de um espectro. A primeira vez que ouvi falar desse conceito fora da física foi em relação às doenças psiquiátricas. Aparentemente, sabe-se hoje que os diagnósticos psiquiátricos são bem mais abrangentes do que costumavam ser. Não se entende mais que uma pessoa "é" determinada doença e sim que tem características do espectro daquela doença.
De forma similar, vejo todas as dualidades da vida: Dia x Noite, Bem x Mal, Saúde x Doença, Feminino (mulher) x Masculino (homem), etc. Obviamente os conceitos absolutos são opostos, mas existem de forma difusa na realidade. Entender isso pode nos libertar de muitas crises existenciais. Definir um conceito pela expressão máxima dele é ignorar a existência de todas as suas expressões mais frequentes. As expressões máximas e opostas de conceitos duais ocorrem de forma quase instantânea, por um breve período de tempo apenas. Por que, então, usar essa expressão de forma tão definitiva e absoluta?
Sei que essa reflexão está parecendo papo de louco, mas vou contextualizar. Como mãe, sei que tenho a obrigação de educar meus filhos para viver em sociedade. A nossa sociedade, porém, é machista, racista, homofóbica, competitiva e, de certa forma, doente. Eu me esforço diariamente para identificar em mim as expressões desses conceitos e, assim, desconstruí-los. A sociedade em que quero viver é outra, é inclusiva e igualitária (no sentido de justa e não de ignorar as diferenças individuais, é bom que se esclareça). Esses são os conceitos que quero passar para os meus filhos.
Uma confusão recorrente é associar o feminismo à ideia de negação da feminilidade. Não é nada disso. O feminino e masculino são duas pontas do mesmo espectro e as pessoas se encaixam em qualquer ponto dele. O feminismo apenas defende que qualquer ponto desse espectro é igualmente valioso. Não há característica ruim ou menor, apenas características diversas que se associam mais ou menos a uma das pontas do espectro. Todas importantes e especiais.
Esse entendimento do espectro do gênero nos leva, consequentemente, à valorização das diferenças. Não havendo hierarquia entre as características possíveis, entendendo todas como importantes e necessárias e sabendo que cada uma existe num determinado ponto do espectro, todos os pontos são essenciais. É na união de todo o espectro que mora a unicidade, a perfeição, que mora Deus. Provavelmente até a ideia da escolha do arco-íris como símbolo da diversidade de gênero venha daí: temos diversas cores e juntos formamos a luz!
E aí, se estava parecendo papo de louco até aqui, agora é que piora... Acredito que somos todos partes do mesmo ser, somos todos um. De verdade. Cada um com uma característica única e essencial na composição do nosso todo. Negar ou diminuir o outro por qualquer que seja o motivo é negar e diminuir a nós mesmos. Tudo que vemos no outro existe em nós, porque somos uns os outros. Mesmo individualmente únicos.
Namastê!
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